segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Comportamento opositor e aversivo

Outro tipo de Agressão Emocional é o comportamento de oposição e aversão. As pessoas que pretendem agredir se comportam contrariamente àquilo que se espera delas. Demoram no banheiro quando percebem que se espera que saiam logo, deixam as coisas fora do lugar quando isso é reprovado, etc. Até as pequenas coisinhas do dia-a-dia podem servir aos propósitos agressivos, como deixar uma torneira pingando, apertar o creme dental no meio do tubo e coisas assim. Mas isso não serviria de agressão se não fossem atitudes reprováveis por alguém da casa.
Esses agressores estão sempre a justificar as atitudes de oposição como se fossem totalmente irrelevantes, como se estivessem corretas, fossem inevitáveis ou não fossem intencionais. Entretanto, sabendo que são perfeitamente conhecidos as preferências e estilos de vida dos demais, atitudes irrelevantes e aparentemente inofensivas podem estar sendo propositadamente agressivas.

Enfim, as agressões emocionais do tipo Comportamento Opositor e Aversivo são variadíssimas, de acordo com as características de cada família. E nem sempre é apenas a atitude ativa que agride. A não-atitude também pode ter propósitos agressivos; o silêncio e o emudecimento podem agredir, assim como a apatia, a omissão, desinteresse e o não-fazer-nada.

Algumas pessoas têm a incrível necessidade de provocar emoções negativas nos outros quando, elas próprias, estão emocionalmente complicadas. É como se “o condenado se consolasse na dor do semelhante”. Assim sendo, quando essas pessoas estão irritadas, magoadas, contrariadas, será muito pior sua irritabilidade, mágoa e contrariedade se não tiverem, ao seu redor, pessoas com iguais ou piores sentimentos.

A maior evidência de que os comportamentos opositores são agressivos na medida em que causam mal estar emocional no outro, é a ausência deles na ausência do espectador que se quer agredir. Um marido irritado, por exemplo, que chega em casa de péssimo humor e, descontente com a comida, atira o prato o chão, jamais teria esse comportamento se estivesse sozinho em casa ou se não houvesse perspectiva de vir alguém para assistir a cena ou os cacos do prato no chão.

Os agressores emocionais de oposição e aversão costumam ter frases costumeiras, como por exemplo as do tipo:

· Mas porque sou eu quem tem de mudar?
· Será tão difícil ter um pouco de paciência comigo?
· Acho que deveriam cuidar de suas vidas e deixar eu cuidar da minha.
· Nessa casa sempre fui tratado de maneira diferente.
· Porque meu irmão pode fazer isso e eu não?
· Os incomodados que se mudem...

No caso da agressão que estimula remorso e culpa os agressores são, predominantemente, mulheres (mães e irmãs, nessa ordem), mas na agressão de oposição e aversão os homens são mais capazes.

Em relação às pessoas que fazem tratamento psiquiátrico as agressões emocionais intrafamiliares têm características especiais. Nesses casos, aplica-se perfeitamente o conceito que se tem sobre famílias de Alta Emoção Expressa, visto acima.

Para essas pessoas, normalmente, as agressões emocionais aparecem sob a forma de falsos conselhos bem intencionados. De fato tais conselhos têm objetivo de censurar, repreender, diminuir, envergonhar, humilhar, culpar, constranger, enfim, a intenção real de causar dor moral no outro. Um agravante e a sempre presente consciência do agressor sobre os efeitos reais de seus comentários, embora diga que “eu apenas disse que...” ou “não sabia que você era tão sensível, desculpe”.

Vejamos alguns poucos comentários pinçados no cotidiano que, muitas vezes, os familiares de pacientes psiquiátricos fazem, motivados pela intenção de agredir dissimulada através de comentários “inocentes”.

· Você deve reagir, ter pensamentos positivos, fortes...
· Sua irmã sim, tem a cabeça boa.
· Acho que se você se ocupasse de alguma coisa...
· Já passei por situações piores e nunca fiquei assim, como você.
· Acho que seu remédio não está fazendo efeito.
· Não te contei porque você não pode passar nervoso.
· Veja como seus irmãos se comportam e procure fazer o mesmo.
· Não posso me dar ao luxo de ficar doente como você.
· Se você tivesse metade de minhas preocupações...
· Se alguém nessa casa faz tratamento, não sou eu...
· Por causa de seu nervoso, daqui pra frente não conto mais nada pra você...
· O médico disse pra eu ter muita paciência com você.
· ... mas para sair de casa você está normal, não é?
· ... se um dia você ficar normal eu prometo que...

Finalizando, é bom ter em mente que o bem estar psicológico dos membros da família não depende apenas da sucessão de eventos proporcionada pelo destino, não apenas das adversidades materiais mas, sobretudo, da intencionalidade expressa ou dissimulada de agredir os demais.

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